A Reinvenção de Ser uma
Jovem Gestante
(Parte I)
Esse
texto nasceu de minha prática em fornecer Yoga para jovens gestantes vítimas de
estupro ou sexo consentido sem proteção. Todas essas jovens futuras mamães
consideravam sua gravidez com ódio, raiva e nojo repulsivo. Entendi o drama
dessas mulheres, jovens adolescentes, como sendo o efeito colateral. Meu
trabalho de Yoga para com elas foi buscar reverter uma situação realizando o
oposto com os meses de gravidez que estavam vestindo emocionalmente.
Suscetível
a tudo isso, busquei uma reflexão sobre essas milhares de adolescentes que
nesse exato momento estão sendo mulher para alguém; seja por um sexo consentido
ou prevalecendo o estupro. Afinal, quando o ser humano mundano observa a vida,
tem pouca consciência do que realmente vê. Portanto, o texto que se segue
nasceu de uma reflexão e disponibiliza-se na necessidade de se mudar o foco de
uma leitura acadêmica gasta e preconceituosa da jovem mãe gestante. Vamos então
ao meditado...
Toda
adolescente mulher é prisioneira de seu próprio horizonte, na maneira pela qual
nele se define. Ela interpreta, a seu modo temeroso, uma montanha de situações
emocionais novas (em parte, produto de suas flutuações hormonais), sem chances
de defesas porque, nessa idade, representará seu "Calcanhar de
Aquiles". Dessa montanha, aderida por inexperiências as mais vastas,
desenvolverá o modelo no qual engajará suas ações em todas as relações obtidas.
Se
para um adulto, a realidade do dia-a-dia representa um desafio para com o lote
de experiências adquiridas, para a jovem adolescente mulher, sua realidade
diária é virtual: torpedos, internet, rede social. O aparelho celular está
acima da família. A obrigação do dia-a-dia consiste em receber chamadas e
realizar chamadas. Se os adultos cometem erros e acertos, a adolescente mulher
arrasta, à flor da pele, o medo. A realidade que veste encontra-se
continuamente pedindo, aos adultos, intervenção. Os pais de hoje já não mais
produzem tempo de carrear à filha adolescente conclusões positivas de um amigo
que é (ou deveria ser) o grande mestre de sua vida.
De
uma jovem adolescente mulher carente, para outra tão carente quanto, a visão
que carregam e têm para com elas mesmas já tece o fio do drama. É aqui que
iniciam a serem desajustadas. Ao criarem um juízo crítico que não se encontra
em conformidade com a realidade, suas rasas compreensões ferem aqueles que as
amam. Nenhuma em estado de adolescência conseguirá domesticar a explosão de
demência que as torna frágeis. Nenhum profissional de saúde psicológica poderá
redimensionar isso com conversa acadêmica. Nessa fase, a adolescente jovem
mulher hasteou em ponto bem alto sua bandeira com dizeres "AMO
SER REBELDE". É uma afirmação
de sua personalidade tribal? Sim, é. No
entanto, engajada a essa característica própria da adolescência, processa-se o
próprio aprisionamento no horizonte; ela adere e usará como âncora a ansiedade
em velocidade crescente de Fórmula Um. Essa ansiedade se desenvolverá como um
vírus mutante; ele saboreia pela corrente sangüínea sazonada de emoções da vida
mundana, totalmente novas para a jovem adolescente mulher, permitindo-a
concorrer ao vestibular da carência, do choro amoroso, do ciúme angustioso, que
se sustentarão no conflito íntimo, mergulhando-a no medo. Diria que as muitas
provas desse vestibular, no que a carência busca preenchê-la com a ansiedade,
tem longa listagem.
(Continua...)
Shrí Vidyacharanasampanaananda
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